EDIFÍCIO BANCO PAULISTA DO COMÉRCIO: IDEIAS MODERNAS NA CIDADE TRADICIONAL
GIOVANNA KOLODY STANJEK (IC) E PROF. DR. ALESSANDRO JOSÉ CASTROVIEJO RIBEIRO (ORIENTADOR).
Apoio:PIBIC
RESUMO
Na primeira metade do século XX, São Paulo assistiu um notável processo de transformação, resultado de intensas mudanças econômicas, acompanhadas dos avanços tecnológicos ede novos padrões de desenvolvimento urbano. O centro histórico da cidade concentrou neste período um vasto repertório de edificações que introduziram novos parâmetros, dando testemunho destas transformações. Nesta perspectiva de obras arquitetônicas significativas, temos o Edifício do Banco Paulista do Comércio; um dos primeiros edifícios de linguagem moderna no Centro Histórico de São Paulo. A pesquisa procurou assim, traçar e descrever as ocupações ocorridas no lote por meio da análise de bases cartográficas e da visita de campo, além de levantar dados no Arquivo Histórico Washington Luiz, rever e expandir referências bibliográficas e atualizar plantas recentes da versão moderna. Compreender esta formação e sucessivas ocupações implica numa reavaliação da arquitetura moderna local, sujeita às circunstâncias locais, em particular aquelas vinculadas a uma cidade colonial; tradicional.
Palavras-chave: Arquitetura moderna, Centro Histórico de São Paulo, Edifícios Modernos
ABSTRACT
In the first half of the twentieth century, a remarkable process took place at São Paulo as a result of intense economic changes, followed by technological improvements and new patterns of urban development. In this period the city historic center concentrated a vast building repertoire that have accomplished new parameters and witnessed these transformations. In this perspective of significant architectural works, we have the Banco Paulista do Comércio Building; one of the first modern language buildings in the historic center of São Paulo. The research thus sought to trace and describe the occupations that occurred in the lot through the analysis of cartographic bases and the field visit, besides collecting data in the Washington Luiz Historical Archive, reviewing and expanding bibliographic references and updating recent plans of the modern version. Understanding this formation and successive occupations implies a reevaluation of local modern architecture, subject to local circumstances, in particular those linked to a colonial city; traditional.
Keywords: Modern Architecture, Historic Center of Sao Paulo, Modern Buildings
1.INTRODUÇÃO
O estudo deste edifício insere-se no contexto da pesquisa “O Centro Histórico de São Paulo: documentação e estudos de reabilitação”. Diversas etapas - patrocinadas pelo Mackpesquisa
- já foram cumpridas e hoje apresentam inúmeros dados coletadas nos arquivos do Iphan, AHWL (Arquivo Histórico Washington Luiz) e Arquivo Corrente da prefeitura (Piqueri), em fontes bibliográficas diversas e visita de campo, encontram-se armazenados on-line no “Banco de Dados do Centro Histórico de São Paulo”. O banco de dados alcançou uma dimensão que começa a impor a necessidade de estudos mais detidos e filtrados das informações acumuladas. A amostragem de dados é ampla e diversificada o que permite vários aportes de investigação. Estas informações estão aguardando complementações, revisões, relatórios e interpretações para serem liberadas e assim acessíveis à pesquisadores e aos demais interessados em sua reabilitação através do site “Edifícios no centro de São Paulo”.
O edifício Banco Paulista do Comércio, 1947-50, foi projetado por Rino Levi e construído pela Sociedade Comercial e Construtora S.A, no período que marca um momento no qual as sedes de bancos e empresas de grande porte estavam começando a se instalar em grandes edifícios. Localizado na esquina da Rua Boa Vista com Ladeira Porto Geral: ele contém em suas formas princípios corbusierianos que fundaram boa parte de nossa arquitetura moderna: estrutura independente em concreto armado, janela em fita, fachada e planta livre. Foi construído no reagrupamento de dois lotes cuja origem se reporta às primeiras formações coloniais. No início do século XX estes dois lotes reunidos sob propriedade da “Sociedade Anônima o Estado de São Paulo”, resultaram na sede do Jornal e no teatro Boa Vista de autoria de Julio de Micheli. Essa construção foi realizada num lote com o formato em “L”, e isso se manteve na construção do Edifício do Banco Paulista do Comércio. Os dois edifícios seriam demolidos anos depois, dando origem ao atual Banco Paulista: composto por dois corpos que remetem às ocupações anteriores (o prédio faz parte de um processo sobre o tombamento do centro histórico de São Paulo, a resolução do processo é dada pela CONPRESP e data o ano de 1992). Portanto, sua forma tem origem no lote de origens coloniais, a despeito da linguagem moderna e da intensa verticalização ocorrida no centro da cidade. Compreender esta formação e sucessivas ocupações implica numa reavaliação da arquitetura moderna local, sujeita às circunstâncias locais, em particular aquelas vinculadas a uma cidade colonial; tradicional.
A pesquisa procurou traçar e descrever as ocupações ocorridas no lote através da análise de bases cartográficas do Sara Brasil (1930), VASP Cruzeiro (1954), o Mapa de 1881 e o Mapa Digital da Cidade (2004); levantar no arquivo AHWL (Arquivo Histórico Washington Luiz) processos referentes às ocupações até 1920; expandir e rever referências bibliográficas; atualizar plantas recentes da versão moderna e reconhecer e avaliar a ocupação atual do edifício por meio de visita de campo.
2.REFERENCIAL TEÓRICO
O Centro Histórico de São Paulo é formado por uma estrutura urbana e um parque edificado que constituem um notável acervo de bens culturais. A área abrigou historicamente o centro de negócios de uma vasta região polarizada pelas atividades econômicas de São Paulo. Somente na década de setenta a hegemonia deste centro começou a ser alterada, com a transferência gradativa de parte das atividades financeiras e de serviços para o eixo da Av. Paulista, processo que prosseguiu, mais adiante, em direção à zona sul. Não obstante, parte ponderável da atividade financeira persistiu no Centro Histórico. Apenas a partir do início da década nos anos 80 se acentuou o deslocamento das atividades econômicas da região central. São vários os fatores responsáveis por este processo. Tais áreas vêm apresentando condições de crescente decadência, motivadas, entre outras razões, pelos efeitos típicos dos ciclos de obsolescência das estruturas físicas.
Como consequência, as atividades tradicionais de serviços e comércio, características da área central, têm se deslocado para outras regiões da cidade, buscando situações mais adequadas a sua implantação, favorecidas ainda pela presença e concentração de público consumidor de maior poder aquisitivo. Daí decorre a ociosidade de considerável número de edificações e a progressiva degradação da região central. O processo de obsolescência das estruturas edificadas constitui um obstáculo de difícil superação, face à demanda por instalações dotadas dos recursos necessários ao desempenho de atividades que exigem atualização tecnológica, num mercado altamente competitivo e dinâmico.
Esta região da cidade apresenta edifícios de grande porte que, valendo-se dos parâmetros urbanísticos vigentes na primeira metade do século XX, promoveram intenso aproveitamento dos lotes, do que resulta uma área urbana compacta de alta densidade. Trata-se de um amplo repertório de obras, compreendendo desde ocorrências pioneiras, a partir de 1925, até os exemplos característicos da arquitetura moderna dos anos 50. A possibilidade de ampliação do repertório de obras de arquitetura moderna certamente contribui para a ampliação das referências de análise deste período de produção. Esta amostragem oferece a oportunidade de revelar obras pouco conhecidas da crítica, de questionar os parâmetros de referência das várias modalidades de expressão da arquitetura moderna e, certamente, promover revisões de aspectos da historiografia da arquitetura moderna pelo exame dos exemplares consagrados a partir das fontes documentais que lhes deram origem.
Hoje, muitos edifícios do Centro Histórico encontram-se vazios, subutilizados ou em processo de transformação para novos usos. Tendo em vista a revitalização e reocupação dessa região, que foi palco de acontecimentos históricos e cujos edifícios são símbolos de sua época e, juntos, relatam a trajetória arquitetônica e cultural de toda uma sociedade, é preciso explorar o potencial de ocupação dessas construções. O estudo dos edifícios permite que tornemos público esse potencial, de forma a conscientizar o mercado imobiliário do valor cultural e de mercado dessas obras, endossando assim as diversas iniciativas já tomadas pelo poder público (CARRILHO, M. J. ; RIBEIRO, A. C. ; SANTOS, C. R. ; NEGRO, P.
S. B. . Banco de Dados Digital: Centro Histórico de São Paulo. In: Seminário Latino-americano Arquitetura e Documentação, 2008, Belo Horizonte).
3.METODOLOGIA
- De caráter geral
Pretende-se alcançar a compreensão de cada um dos edifícios no contexto específico de sua realização, por meio da reconstituição histórica da ocupação do lote em suas sucessivas etapas, as edificações precedentes, os processos de remembramento de lotes, a incidência de normas e limitações urbanísticas sobre os projetos, os pareceres de análise pela prefeitura, o exame das sucessivas versões apresentadas e as discussões de aprovação dos projetos. Vale acrescentar, por fim, a recepção, quando houver, da crítica especializada sobre a obras realizadas.
O estudo foi desenvolvido por meio da pesquisa histórica de fontes primárias obtidas mediante estudo e análise de informações dos principais fundos arquivísticos da cidade de São Paulo e pela análise das duas principais fontes de levantamentos de informações, a saber:
- A pesquisa histórica compreendendo estudos e a análises de informações de arquivos, tanto de fontes escritas como de fontes iconográfica.
- A pesquisa de campo compreendendo o levantamento da estrutura física do logradouro, composta dos edifícios, do leito carroçável e do passeio, além do equipamento urbano existente e por meio de visitas aos imóveis, registros fotográficos e fichamentos sobre o estado em que se encontram as edificações.
- A revisão bibliográfica será feita em duas linhas principais: de um lado os aspectos teóricos que envolvem o surgimento da arquitetura moderna e os princípios conceituais que a definem; de outro, mediante a compilação de todas as fontes existentes sobre as obras em estudo.
- Plano de Trabalho específico:
- Levantamento dos processos referentes às ocupações do lote até 1920 no arquivo AHWL (Arquivo Histórico Washington Luiz);
- Analise e descrição dos conteúdos dos processos em nome do “O Estado de São Paulo”
- Levantamento nos arquivos do Jornal “O Estado de São Paulo” as origens dos edifícios sede e Teatro Boa vista;
- Levantamento bibliográfico sobre as versões do Banco Paulista do Comércio
- Atualizar leitura das plantas modernas o Escritório Rino Levi;
- Traçar e descrever ocupações ocorridas no lote;
- Relatório da visita in loco com levantamento e registro de imagens;
- Relato e revisão final;
- Inserção dos elementos da pesquisa no banco dados e liberação das informações para o site “Edifício nos Centro de São Paulo”.
4.RESULTADO E DISCUSSÃO
- Levantamento no AHWL
Na primeira parte da pesquisa, para a identificação da área como um patrimônio a ser preservado, foram necessários, além da análise histórica, consultas aos documentos do Arquivo Histórico Municipal Washington Luiz (AHMWL) nos dias 29/03/2019 e 02/04/2019. Esses documentos permitiram uma maior compreensão do que existia no lote anteriormente e assim a sua consolidação, entendendo como sua forma foi concebida.
Foram consultadas as caixas 28 do Fundo de Cinemas e a caixa OP 361 da série Obras Particulares. Na primeira caixa, encontramos plantas do teatro Boa Vista que confirmam a consolidação do lote, mostrando-se como um apêndice de uma forma retangular, compondo a forma final em L. Na segunda caixa haviam relatos sobre a construção do Edifico do Estado de São Paulo que diziam respeito ao seu uso e estrutura, utilizadas provavelmente na concepção da obra.Porão Teatro Boa Vista
Planta Teatro Boa Vista
Planta Teatro Boa Vista
- Analise e descrição dos conteúdos dos processos em nome do “O Estado de São Paulo”.
Foram encontrados alguns processos para a concessão da obra que fizeram com que o projeto inicial fosse modificado e que algumas alterações na calçada fossem realizadas para melhor a condição em que o edifício se inseria no lote. Alguns processos, como o de 1949 indicam que a numeração dos lotes anteriores ao do Banco Paulista era 196, anterior a isso em 1937, 186 e 192 e que antes de 1928 não havia nenhum edifício no
Documento solicitando aprovação do projeto
- Levantamento nos arquivos do Jornal “O Estado de São Paulo” as origens dos edifícios sede e Teatro Boa vista;
Na matéria Era uma vez em SP: teatro Boa Vista presente no site do acervo do estadão Liz Batista escreve: “A empresa jornalística havia comprado, em 1912, terrenos nas ruas Boa Vista e 25 de Março, para ali erguer sua primeira sede própria. O prédio onde passaria a funcionar a redação e a administração do jornal em 1913 foi erguido na Rua Bela Vista, nº 30(...) O teatro Boa Vista foi demolido em 1947. No local foi erguido o edifício do Banco Paulista do Comércio, obra do renomado arquiteto Rino Levi.
”Teatro ficava na rua Boa Vista n.º 30, esquina com a Ladeira Porto Geral. Acervo/Estadão
- Levantamento bibliográfico sobre as versões do Banco Paulista do Comércio.
Os processos dos arquivos digitalizados fornecidos pelo Iphan, e as plantas originais dos edifícios indicam que ocorreram algumas modificações e processos de aprovações para que o prédio apresente a forma original que tem hoje em dia. Além disso, analisando as plantas do Teatro Boa Vista, já é possível ver a forma irregular do lote que daria corpo ao Banco Paulista.
Biografia dos autores
Rino di Menotti Levi nasceu em São Paulo, capital, no dia 31 de dezembro de 1901. Muda-se para a Itália em 1919, onde se forma arquiteto pela Escola Superior de Arquitetura de Roma, em 1925, e no ano seguinte retorna ao Brasil. Ele foi responsável por várias das primeiras obras de arquitetura moderna na cidade de São Paulo, e por consequência no Brasil, como o Edifício Columbus, projetado em 1928 e concluído em 1932, o Edifício Guarany e o Edifício Sarty.
Em 1925, ainda estudante, envia ao jornal O Estado de S. Paulo uma carta que é publicada com o título Arquitetura e Estética das Cidades, considerada uma das primeiras manifestações por uma arquitetura moderna no Brasil. Sua primeira obra moderna construída é o Pavilhão da L. Queiroz na Feira de Amostras do Parque da Água Branca, 1931. Em 1957, ao lado de Vilanova Artigas (1915 - 1985) e outros colegas, organiza uma proposta de reelaboração do ensino na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, onde leciona até 1959.
- Atualização das plantas modernas o Escritório Rino Levi;
Foram inseridas plantas, cortes, elevações e perspectiva digitalizadas originais do edifício, provindas do escritório Rino Levi As plantas de escala 1:100 possuem a área construída de cada pavimento, nome de cada ambiente e o eixo de pilares. Os cortes também em escala 1:100 estão com as cotas de níveis e a legenda de cada ambiente.
Planta Primeiro Planta Primeiro Pavimento do Edifício Banco Paulista
- Ocupações ocorridas no lote;
O terreno no qual o prédio foi erguido abrigava antes o Teatro Boa Vista, que pertencia ao jornal O Estado de S. Paulo. Na primeira fase da pesquisa foram realizadas análises de bases cartográficas do Sara Brasil (1930), VASP Cruzeiro (1954), o Mapa de 1881 e o Mapa Digital da Cidade (2004). Algumas leituras permitiram um levantamento histórico e geográfico do lote proporcionando a compreensão e o reconhecimento de seu processo de consolidação. Sua forma foi concebida pelo perímetro irregular do lote e pela legislação existente na época. No mapa de 1881 já é possível verificar a presença desses dois lotes, porém delimitados de outra maneira, que posteriormente será redesenhada para a construção do Teatro e do Edifício do Estado de São Paulo. Nos mapas Sara Brasil (1930), Vasp-Cruzeiro (1954) é possível perceber que a geometria do lote de esquina e do lote que se aprofunda na quadra já estão demarcadas - um dos lotes que conformaram o terreno final do Banco Paulista – mantém-se quase o mesmo; entretanto, é possível observar na mesma quadra as demarcações dos lotes mesmo diante de algumas alternâncias entre remembramentos e parcelamentos e do próprio alargamento da Rua Boa Vista. Portanto, pode se dizer que o edifício é uma extrusão do terreno final em forma de ‘L’, moldado a legislação da época, que delimitou e proporcionou o gabarito variado do edifício em questão. (RIBEIRO, 2010).

Mapeamento 1930 Sara

Mapeamento 1954 Vasp Cruzeiro

Mapa de 1881
Ortofoto 2004 MDC
Levantamento SketchUp

Imagem de Satélite, Google Earth
- Relatório da visita in loco;
No dia 24/05 realizamos a vista técnica ao edifício, entendendo melhor a sua espacialização e volumetria. O recuo na frente do edifico transmite a sensação de abrigado e proteção principalmente em dias de chuva. É possível entrar por dois ambientes no edifício, o primeiro o hall de entrada que dá acesso a todos os pavimentos e o segundo o Banco Itaú, localizado no térreo do edifico.
A parte interior do banco ainda apresenta grande parte dos materiais de revestimentos preservados como tipo “vidrotil” nos pilares, o mármore no piso e nas paredes e o interior do elevador de madeira. Não se foi possível explorar esta outra parte devidamente por conta da segurança apresentada pelo local.
Já no edifício, no hall de entrada alguns materiais ainda são originais como o mármore italiano, mas em outras partes já foram substituídos por outro tipo de material. Alguns conjuntos continuam com suas esquadrias originais de ferro, porém a grande maioria já foi modificada por esquadrias de alumínio. A planta livre com estrutura recuada faz com que a esquadria feche todo o perímetro dos andares, proporcionando uma vista de todo entorno do edifício. A janela é denominada de máximo ar, abrindo por completo de forma que entre vento por cima e por baixo do vidro quando aberta. O piso original dos pavimentos era de madeira, mas a maioria foi acarpetado ou como o pé direito dos andares são altos, o piso foi elevado e foram colocadas placas de outro tipo de material por cima.
A divisão interna dos pavimentos é completamente variada, todos são destinados a serviços (como loja de costura e escritórios de advocacia), sendo o apartamento do zelador a única destinado a função de residencial. O edifício apresenta quatro elevadores, três deles ativos e um desativado já que os outros três já são suficientes para o fluxo de pessoas e cargas que o prédio demanda. As disposições dos elevadores e caixas de escada, como sanitários respondem a uma mesma lógica (ou estratégia): estão postados contra as empenas e divisas laterais dos lotes lindeiros, deixando livres as fachadas voltadas para as ruas. No oitavo pavimento temos a ligação entre as duas partes dos edifícios, ou seja, nos pavimentos de cima só se tem acesso a torre maior.
O edifico possui fechamentos externos em esquadrias de ferro e vidro, em blocos de vidro em parte do térreo e lojas e remates de pastilhas de porcelana. Contém em suas formas princípios corbusierianos que fundam boa parte de nossa arquitetura moderna: planta livre para os escritórios, estrutura independente em concreto armado, fachada livre e corrida, janela em fita. No subsolo do edifício, descendo a Ladeira Porto Geral, tem-se uma loja de adereços e fantasias.

1Imagem do autor, Edifício Banco Paulista vista da esquina
- Inserção dos elementos da pesquisa no banco dados e liberação das informações para o site “Edifício nos Centro de São Paulo”.
Ao longo da pesquisa, os dados coletados foram inseridos no banco de dados e serão posteriormente liberados no site “Centro Histórico de São Paulo Documentação e Estudos de Reabilitação”, pelos professores pesquisadores.
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1
A pesquisa tinha como propósito fundamental a reunião sistemática de informações sobre o Centro Histórico de São Paulo, a fim de torná-las acessíveis. A primeira parte concretizada deste proposito foram os levantamentos de fontes arquivísticas de pesquisa bibliográfica e processual sobre o teatro Boa Vista no AHWL (Arquivo Histórico Washington Luiz), onde foram encontradas plantas do antigo teatro que afirmam a ideia de que o Banco Paulista foi formado pela união de dois lotes.
Posteriormente, com a análise dos mapas cadastrais da cidade (1881 Companhia Cantareira e Esgotos; Sara Brasil, 1930; Vasp-Cruzeiro, 1954), foi possível traçar e descrever as ocupações ocorridas no lote, entendo melhor como ele foi se formando ao longo do tempo.
Em seguida, ocorreu a descrição de parte dos arquivos dos processos de aprovação do edifício Banco Paulista e posteriormente o armazenamento no banco de dados “Banco de Dados do Centro Histórico de São Paulo”.
Por último, a partir da visita in loco, foi possível atualizar o relatório e remontar a história da ocupação dos lotes. A visita também proporcionou uma melhor compreensão da forma do Edifício, sua forma final expressa uma complexa composição que concilia conceitos modernos, legislação e singularidade de um lote irregular que impuseram uma dupla volumetria.
5.2
Localizado na esquina da Rua Boa Vista com Ladeira Porto Geral, o Banco Paulista do Comercio, projeto de Rino Levi e construído entre 1947 e 1950 pela Sociedade Comercial e Construtora S.A, contribuiu de forma significativa com o processo de verticalização do centro. Além disso introduziu o modernismo na região central da cidade como um edifício pioneiro.
O período no qual o prédio foi construído marca um momento no qual as sedes de bancos e empresas de grande porte estavam começando a se instalar em grandes edifícios. Logo após sua construção, era usado como a sede do Banco Paulista do Comércio, a agência bancária ocupava o térreo, a sobreloja e o subsolo.
Compreender esta formação e sucessivas ocupações implica numa reavaliação da arquitetura moderna local, sujeita às circunstâncias locais, em particular aquelas vinculadas a uma cidade colonial; tradicional.
A arquitetura moderna abole a distinção entre frente e parte posterior, criando estruturas que são harmoniosas em cada direção: em suma, liberta o edifício do contato insalubre típico das cidades tradicionais. Entretanto, como pondera Ribeiro (2010), no Centro Histórico de São Paulo não é possível uma distinção tão clara. Pelo contrário, ali a arquitetura moderna já nasce marcada pelo tecido antigo, pelas assimilações e distorções. Ali o cotejamento, as ambiguidades e contradições entre os dois modelos de cidade - a tradicional e a moderna – são evidentes, talvez prenunciadores de algo inconcluso ou inconciliável.
Segundo o professor Marcos Carrilho em sua publicação “Interfaces entre experiências: contribuições da documentação e da pesquisa para a prática projetual e para a crítica da arquitetura e do urbanismo” de 2013 a área abrigou historicamente o centro de negócios de uma vasta região polarizada pelas atividades econômicas de São Paulo. Somente na década de setenta a hegemonia deste centro começou a ser alterada, com a transferência gradativa de parte das atividades financeiras e de serviços para o eixo da Avenida Paulista, e posteriormente em direção à zona sul. Mas apenas a partir do início da década dos anos 80 se acentuou o deslocamento das atividades econômicas da região central.
Daí decorre a ociosidade de considerável número de edificações e a progressiva degradação da região central. Esta região da cidade apresenta edifícios de grande porte que, valendo-se dos parâmetros urbanísticos vigentes na primeira metade do século XX, promoveram intenso aproveitamento dos lotes, do que resulta uma área urbana compacta de alta densidade.
Em resumo, o Edifício do Banco Paulista do Comércio se sobressai como um dos primeiros edifícios de linguagem moderna no Centro Histórico de São Paulo, sujeitos aos imperativos da cidade tradicional.
6.REFERÊNCIAS
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Acrópole, nº 146, p 40-45, jun. 1950 http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/146
ARANHA, Maria Beatriz de Camargo. A Obra de Rino Levi e a trajetória da arquitetura moderna no Brasil. Tese (Doutorado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo. 2008.
Artigo online Rino Levi: Hespéria nos trópicos. Fábio Fernandes Villela. http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.061/452
Artigo online. Em foco: Rino Levi.
Igor Fracalossi.https://www.archdaily.com.br/br/779671/em-foco- rino- levi?ad_medium=widget&ad_name=navigation-prev
Banco de dados Centro Histórico de São Paulo: Faculdade de Arquitetura e urbanismo, Universidade Presbiteriana Mackenzie.
CARRILHO, Marcos José; SANTOS, Cecilia Rodrigues dos; RIBEIRO, Alessandro José Castroviejo; DEL NERO, Paulo Sérgio Bárbaro. Interfaces entre experiências: contribuições da documentação e da pesquisa para a prática projetual e para a crítica da arquitetura e do urbanismo. Salvador, 6º Seminário Projetar, 2013.
COSTA, Ana Elísia Calovi. O gosto pelo sutil: confluências entre as casas- pátio de Daniele Calabi e Rino Levi. Tese (Doutorado). Faculdade de Arquitetura - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2011.
Cultural, Enciclopédia Itaú. Rino Levi - Enciclopédia Itaú Cultural.
Grupo Cinemas, caixa Cine-6, requerimento 76495; caixa Cine-25, requerimento 8570 e 73674; caixa Cine-28, requerimento 22597 e 52819, AHMWL. Grupo Edificações Particulares, caixa B5/1915, doc.22, requerimento 114.722; caixa B7/1920, doc. sn, requerimentos 3879, 3895, e 12472; caixa B7/1921, doc.24, requerimento
41688,
AHMWL. Grupo Polícia Administrativa e Higiene, caixa 508, requerimento 5543, AHMWL.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Edif%C3%ADcio_do_Banco_Paulista_do_Com%C3
%A9rcio
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.089/197. Edifícios modernos no centro histórico de São Paulo. Alessandro José Castroviejo Ribeiro.
https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,era-uma-vez-em-sp-teatro-boa- vista,10972,0.htm. Era uma vez em SP: teatro Boa Vista.Liz Batista.
LORES, Raul Juste. São Paulo nas alturas: a revolução modernista da arquitetura e do Mercado imobiliário nos anos 1950 e 1960. São Paulo: Três Estrelas, 2017.
RAHAL, Marina Silva. O conforto térmico nas residências de Rino Levi. Dissertação (Mestrado). Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo. 2006.
RIBEIRO, Alessandro José Castroviejo. Edifícios Modernos e o Centro Histórico de São Paulo: dificuldades de textura e forma. Tese de Doutorado, FAUUSP, São Paulo, 2010.
SOMEKH,Nadia . A cidade vertical e o urbanismo modernizador. São Paulo, Studio Nobel 1997
XAVIER, Alberto, LEMOS, Carlos, CORONA, Eduardo. Arquitetura Moderna Paulistana. São Paulo, Pini, 1983.
Contatos: gikaks@hotmail.com e alessandro.castroviejo@gmail.com