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Edifício Conde de Prates: sucessivos projetos modernos sob uma mesma estrutura
Detalhe
Edifício Conde de Prates: sucessivos projetos modernos sob uma mesma estrutura
Edifício Conde de Prates: sucessivos projetos modernos sob uma mesma estrutura
ALUNO (IC): Ritiele Rocha de Souza
ORIENTADOR: Prof. Dr. Alessandro José Castroviejo Ribeiro
Apoio: PIBIC CNPq
RESUMO
A pesquisa pretendeu relatar e sistematizar dados dos processos e arquivos fotográficos do Edifício Conde de Prates, assim como ampliar dados sobre o edifício e sua formação. A intenção foi a de fornecer subsídios complementares para uma releitura da formação do edifício, localizado na rua Líbero Badaró, n° 293, Centro Histórico de São Paulo. O projeto final de autoria do italiano Giancarlo Palanti foi finalizado sobre dois projetos anteriores, como já apontado por Ribeiro (2010 e 2014). Uma revisão da historiografia moderna do centro de São Paulo; ampliado nossa compreensão acerca do moderno e suas variações. Neste sentido, a pesquisa também procurou identificar e descrever as ocupações antecedentes no lote do atual edifício: no caso, o Palacete Prates - cuja projeção, forma e transições definem de alguma maneira o prédio moderno.
Palavras-chave: Arquitetura Moderna, Centro Histórico de São Paulo, Edifício Conde de Prates
ABSTRACT
The research aimed to report and systematize data from the processes and photografic archives of the Conde de Prates Building, as well as expand data on the building and its formation. The intetion was to provide additional subsidies for a re-reading of the building’s formation, located at Rua Líbero Badaró, n ° 293, Centro Histórico de São Paulo. The final project by the Italian Giancarlo Palanti was completed on two previous projects, as already pointed out by Ribeiro (2010 and 2014). A review of modern historiography in downtown São Paulo; expanded our understanding of the modern and its variations. In this sense, the research also sought to identify and describe the previous occupations in the lot of the current building: in this case, Palacete Prates – whose projection, shape and transitions somehow define the modern building.
Keywords: Modern Architecture, Historic Center of São Paulo, Conde de Prates Building.
INTRODUÇÃO
Um dos marcos dos anos 50 na cidade de São Paulo, o edifício Conde de Prates trouxe à cidade naquela época uma imagem de desenvolvimento da arquitetura modernista paulista. Localizado na rua Líbero Badaró, nº 293, Centro Histórico de São Paulo, é um projeto de autoria do arquiteto italiano Giancarlo Palanti juntamente com a Construtora Alfredo Mathias. A execução do projeto foi feita através da Construtora Alfredo Mathias e Segurança Imobiliária LTDA. Construído entre 1950 a 1956, tem 33 pavimentos, 45.000 m² de área construída, estrutura de concreto, e se caracteriza por ser um prédio moderno. O edifício é constituído por quatro fachadas envidraçadas com núcleo central onde ficam os serviços e as circulações. A torre configura-se como uma extrusão do lote e dos palacetes demolidos.
Em resumo, sua localização privilegiada nas vertentes do Anhangabaú articula três espacialidades importantes: o próprio Parque do Anhangabaú, a Praça do Patriarca e o Viaduto do Chá – que realiza a passagem em nível entre duas colinas, entre o Centro Velho e o Novo pela Rua Barão de Itapetininga. Na história do edifício subjaz parte dos processos de modernização e urbanização de São Paulo. (Ribeiro, p. 240, 2010)
A modernização do centro de São Paulo na década de 50, foi evidenciada pelo desenvolvimento de projetos de edifícios modernos como o do edifício Conde de Prates. Foi possível entender também, o crescimento do mercado imobiliário da época, através de seus novos empreendimentos, que eram constantemente evidenciados por anúncios em jornais e reportagens em revistas. O edifício comercial em questão, foi chamado de “majestoso” pela Revista Acrópole em 1956, mostrando seu prestígio na época.
Na história do edifício pronunciam-se parte dos processos de modernização e urbanização do centro de São Paulo, que abarcam questões ligadas às legislações, às correções de traçado viário, à tecnologia e, sobretudo, às variações em torno da construção de uma linguagem moderna da arquitetura. (Ribeiro, p. 3, 2014)
REFERENCIAL TEÓRICO
O Centro Histórico de São Paulo é formado por uma estrutura urbana e um parque edificado que constituem um notável acervo de bens culturais. A atual estrutura urbana do Centro Histórico de São Paulo apresenta uma configuração cujos principais delineamentos guardam relações com os processos de ocupação que remontam às origens da formação da antiga vila colonial.
Mas, além disso, documenta as transformações sucessivas por que passou a cidade, notadamente aquelas que testemunham sua transição de vila colonial a cidade cosmopolita na virada do século XIX para o século XX. Inicialmente, a transposição do Vale do Anhangabaú permitiu a ampliação da malha urbana dando início à formação do bairro de Santa Ifigênia, em seguida os Campos Elíseos e outros que viriam a configurar a assim chamada “Cidade Nova”. Na primeira metade do século XX, a área central foi objeto de uma sucessão de projetos de “melhoramentos” e reformas urbanas que buscaram atender a vertiginosa transformação pela qual a cidade passou no período. Das diretrizes pioneiramente formuladas por Silva Telles até a reurbanização do vale do Anhangabaú, muitas mudanças ocorreram. Da mesma forma, de Silva Freire a Prestes Maia, embora os sucessivos planos urbanísticos tenham trazido grandes contribuições para a modernização da nascente metrópole, a maioria deles não se implantou integralmente, sofrendo adaptações e acomodando-se às contingências políticas e administrativas.
A partir dos anos de 1920 tem inicio uma intensa ocupação; logo substituída, nos anos 30 por edifícios de altura máxima de seis pavimentos, tendência à verticalização que seria potencializada a partir de 1940. Nesse território uma estrutura viária e fundiária que remonta às origens coloniais foi alargada e ampliada rapidamente. Um tecido foi constituído ao longo do tempo, nos moldes de uma cidade tradicional; guardando ainda as marcas da geografia e da história. Nesse mesmo período, sistemas construtivos e estilos são substituídos; e não raro passam a conviver juntos (RIBEIRO, 2010, P.13).
A área abrigou historicamente o polo de negócios de São Paulo. A partir da década de setenta esse polo começou a se mover gradativamente em direção à Avenida Paulista, processo que prosseguiu, mais adiante, em direção à zona sul. Apesar de parte significativa da atividade financeira persistiu no Centro Histórico, a partir do início da década nos anos 80 esse deslocamento acentuou-se.
São vários os fatores responsáveis por este processo. O centro veio apresentando condições de crescente do declínio motivadas, principalmente, pelos efeitos existentes dos ciclos de obsolescência das estruturas físicas. Como isso, as atividades primordiais de serviços e comércio, típicas das áreas centrais, têm se deslocado para outras regiões da cidade, à procura de situações mais favoráveis como a presença e concentração de público consumidor de maior poder aquisitivo. Esses acontecimentos contribuem para a ociosidade de considerável número de edificações e a progressiva degradação da região central. O processo de obsolescência das estruturas edificadas constitui um obstáculo de difícil superação, face à demanda por instalações dotadas dos recursos necessários ao desempenho de atividades que exigem atualização tecnológica, num mercado altamente competitivo e dinâmico.
Esta região da cidade apresenta edifícios de grande porte que, valendo-se dos parâmetros urbanísticos vigentes na primeira metade do século XX, promoveram intenso aproveitamento dos lotes, do que resulta uma área urbana compacta de alta densidade. Trata-se de um amplo repertório de obras, compreendendo desde ocorrências pioneiras, a partir de 1925, até os exemplos característicos da arquitetura moderna dos anos 50. A possibilidade de ampliação do repertório de obras de arquitetura moderna certamente contribui para a ampliação das referências de análise deste período de produção. Esta amostragem oferece a oportunidade de revelar obras pouco conhecidas da crítica, de questionar os parâmetros de referência das várias modalidades de expressão da arquitetura moderna e, certamente, promover revisões de aspectos da historiografia da arquitetura moderna pelo exame dos exemplares consagrados a partir das fontes documentais que lhes deram origem.
Hoje, muitos edifícios do Centro Histórico encontram-se vazios, subutilizados ou em processo de transformação para novos usos. Tendo em vista a revitalização e reocupação dessa região, que foi palco de acontecimentos históricos e cujos edifícios são símbolos de sua época e, juntos, relatam a trajetória arquitetônica e cultural de toda uma sociedade, é preciso explorar o potencial de ocupação dessas construções. O estudo dos edifícios permite que tornemos público esse potencial, de forma a conscientizar o mercado imobiliário do valor cultural e de mercado dessas obras, endossando assim as diversas iniciativas já tomadas pelo poder público (CARRILHO, Santos, Ribeiro e Del Nero, 2013).
METODOLOGIA
3.1. De caráter geral:
Pretendeu-se alcançar a compreensão de cada um dos edifícios no contexto específico de sua realização, por meio da reconstituição histórica da ocupação do lote em suas sucessivas etapas, as edificações precedentes, os processos de remembramentos de lotes, a incidência de normas e limitações urbanísticas sobre os projetos, os pareceres de análise pela prefeitura, o exame das sucessivas versões apresentadas e as discussões de aprovação dos projetos. Vale acrescentar, por fim, a recepção, quando houver, da crítica especializada sobre a obras realizadas. Além, destes procedimentos de caráter histórico procurou-se cumprir as seguintes etapas de trabalho.
Plano de Trabalho Específico:
Levantamento e registro fotográficos dos processos legais sob guarda da zeladoria do edifício
;
Registro e cópia do inventário fotográfico do condomínio já identificado;
Descrição das informações coletadas;
Ordenação e cronologia das fontes (processos e projetos) encontradas na zeladoria e no banco de dados “Centro Histórico de São Paulo: documentação e estudos de reabilitação”;
Traçar e descrever ocupações ocorridas no lote através da série de cartografias históricas e atuais da cidade;
Descrever a cronologia de construção dos edifícios através da documentação fotográfica disponível;
Relatório dos levantamentos de campo;
Relato e revisão final.
Inserção dos produtos da pesquisa no banco dados e liberação das informações para o site “Edifício nos Centro de São Paulo: Mackenzie”
OBS; os itens, a,b,c,e d, ficaram prejudicados em razão da pandemia. Visitas realizadas antes da decretação da quarentena, permitiram a identificação das mencionadas fontes, entretanto, a coleta, compilação e transferência dos dados ficaram impossibilitados.
RESULTADO E DISCUSSÃO
4.1 Levantamento no AHWL (Arquivo Histórico Washington Luiz)
As pesquisas feitas no AHWL tinham o sentido de estruturar o objeto de estudo para análise do endereço atual do Edifício Conde de Prates, e o seu emplacamento ao longo dos anos, para entender e analisar as ocupações anteriores e sua relação com o edifício atual. O Arquivo Histórico Municipal conta com a organização de dados em livros com diferentes denominações. Datas anteriores a 1905 são os chamados Livros Encadernados, de 1906- 1915 é o sistema denominado SIRCA, entre 1916-1923 os arquivos encontram-se em Caixas e em 1924 a 1935 é o sistema SINPROC, de 1936 em diante os arquivos se encontram no arquivo geral do Piqueri. Através disso, dado o endereço atual, foi feita checagem na lista de volumes condizentes com o endereço do prédio, e foram encontrados três volumes, o volume 21 (p. 296-298) ano 1936, volume 13 (p. 194) ano 1928, volume 6 (p. 15) ano 1909, (p. 35-36) ano 1915, (p. 48) ano 1922. A partir da análise desses volumes foi possível construir a cronologia do emplacamento da rua Líbero Badaró nº 293, que em 1909 era identificado pelo nº 21 e mudou-se para o nº 25, já em 1915 mudou-se do nº 25 para o nº 106, em 1928 do nº 106 para o nº 36s e finalmente em 1936 do nº 36s para o nº 293, que corresponde ao endereço atual. Com base nessas informações, foi feita a consulta do dicionário de ruas, pelo site Arquiamigos AHSP, onde observou-se que a rua Líbero Badaró se chamou rua Nova São José até 1916.
Após a pesquisa no dicionário de ruas, foi consultado o livro de Obras Particulares e foram analisados muitos processos referentes a rua Nova São José que se tornou, posteriormente Líbero Badaró, onde foi possível encontrar o ano que o Conde de Prates compra os lotes e os transforma em seus famosos palacetes, até a demolição dos mesmos e a posterior construção do Edifício Conde de Prates. É importante frisar que, após essas análises, observou-se que a ocupação do palacete corresponde à ocupação da edificação atual no mesmo lote. Nos livros encadernados, foi encontrado o processo que relata o pedido para construir no lote, feito pelo Sr. Eduardo Prates em 1889, que posteriormente, se tornaria o Conde de Prates. Também foi achado o processo que identifica um casarão que havia no local, antes de ser demolido para a construção dos palacetes.
Através de arquivos digitalizados, no Arquivo Histórico Municipal (AHM), foi possível obter as plantas e uma elevação de um dos Palacetes Prates. Os palacetes são de autoria do engenheiro baiano Samuel das Neves (1863-1937) que, além dos palacetes, projetou e construiu centenas de prédios, entre residências simples e de luxo, escolas, fábricas, tanto na capital como no interior, e de seu filho, o arquiteto Cristiano Stockler das Neves (1889- 1982), que projetou a Estação Sorocaba, atual Estação Julio Prestes, e a sede da Sala São Paulo. Nos projetos dos Palacetes Prates houve a contribuição do engenheiro e arquiteto italiano Julio Micheli (1862-1919), conde florentino, um dos colaboradores do escritório técnico Samuel das Neves. Os palacetes foram inaugurados em 1911.
Foi o engenheiro Samuel das Neves um grande inovador na arte de construir em São Paulo. Foi o primeiro a empregar estrutura metálica em edifícios comerciais (prédios do Conde de Prates, Irmãos Weiszflog, Casa Michel). Construiu também o primeiro prédio em concreto armado no centro da cidade, o prédio Médici, na rua Libero Badaró esquina da ladeira Dr. Falcão, 1912, bem como a primeira casa de apartamentos para solteiros, nessa mesma rua, em terreno do Mosteiro de São Bento, em 1913. (A GAZETA, 6 fev.1954).
Os Palacetes abrigaram a Câmara e a Prefeitura nos dois prédios gêmeos que faziam parte do plano de reurbanização do Vale do Anhangabaú (concebido pelo urbanista francês Joseph Bouvard).
Figura 1: Planta rez do chão assinada por Julio Micheli em 1911.
Fonte. Arquivo Histórico Municipal
Figura 2: Planta 1º andar assinada por Julio Micheli em 1911.
Fonte. Arquivo Histórico Municipal
Figura 3: Elevação do Palacete para o Vale do Anhangabaú
Fonte. Arquivo Histórico Municipal
Figura 4: Palacetes Prates vistos do Vale do Anhangabaú
Fonte. Acervo Fundação Energia e Saneamento
Evolução Cartográfica do Lote
Analisando a cartografia do lote em 1881 (figura 5) observou-se que a rua Líbero Badaró ainda levava o nome de rua Nova São José. O ribeirão Anhangabaú ainda não havia sido canalizado, além de ter muitos lotes sem construção na Nova São José. Em meados de 1890, o até então fazendeiro Eduardo Prates, compra uma residência na rua, assinalada no mapa, (figura 6 e 7) o que posteriormente seria derrubada e iniciada a construção dos palacetes.
Figura 5: Mapa da cidade de São Paulo em 1881
Fonte. Arquiamigos/ AHM
Figura 6: Planta da residência comprada pelo Conde de Prates
Fonte. Arquivo Histórico Municipal
Figura 7: Corte da residência comprada pelo Conde de Prates
Fonte. Arquivo Histórico Municipal
No mapa Sara Brasil de 1930 observa-se a Praça Ramos de Azevedo juntamente com o Theatro Municipal e o Viaduto do Chá construído, a canalização do Ribeirão do Anhangabú feita, através do plano de reurbanização do Vale do Anhangabaú concebido pelo francês Joseph Bouvard e por isso, detaca-se o traçado urbano modificado. Percebe-se ainda, no mapa (figura 8), a projeção dos Palacetes Prates gêmeos na rua Líbero Badaró.
Figura 8: Mapa Sara Brasil 1930
Fonte. Arquiamigos/ AHM
No mapa Vasp-Cruzeiro de 1954 (figura 9), é possível identificar a Praça do Patriarca já construída e a projeção do antigo palacete, então já demolido (figura 10). Nessa ocasião, o edifício Conde de Prates encontrava-se em construção (figura 11 e 12). A demolição dos palacetes só foi concluída em meados de 1950. Observa-se atualmente (figura 13) o edifício inserido no contexto urbano do século XXI envolto por prédios altos em sua maioria, modernos.
Figura 9: Mapa Vasp-Cruzeiro 1954
Fonte. Arquiamigos/ AHM
Figura 10: Demolição dos palacetes em meados de 1950
Fonte. São Paulo Antiga
Figura 11: Construção do Edifício Conde de Prates em Setembro de 1954
Fonte. Acervo Folha de São Paulo
Figura 12: Construção do Edifício Conde de Prates em 1954
Fonte. Instituto Moreira Salles
Figura 13: Vista Aérea de 2017
Fonte. GeoSampa
Edifício Conde de Prates e seus vários projetos modernos
Ao longo de análises através da plataforma de pesquisa do Mackenzie, cujo fim é armazenar dados dos edifícios do Centro Histórico de São Paulo, a ferramenta, auxiliou a pesquisa com processos e plantas do edifício em questão. Através desses dados, houve compreensão e clareza de que, houve um projeto para o edifício Conde de Prates datado de 1945 do arquiteto carioca Elisiário Bahiana (figura 14 e 17), em que a fachada do prédio é constituída de cheios e vazios, com base e coroamento, bem diferente da fachada moderna que foi construída. Observa-se que a planta (figura 14) também datada de 1945 de Bahiana, é muito semelhante à planta atual, com diferença da fachada, que posteriormente foi modificada. É importante frisar que, nesse projeto em questão a única empresa incorporadora é a Seguranca Imobiliária S.A. (figura 21) que pertencia a Alfredo Mathias.
Observa-se o processo administrativo nº 13.376/46, (figura 20), que pede a substituição de algumas folhas do anteprojeto de 1945 para dar continuidade na prefeitura dos processos relacionados ao edifício, firmando que esse projeto até então seria construído.
Alfredo Mathias, em 1951, projeta uma nova fachada ao edifício que, dessa vez, alonga o edifício através das linhas verticais, mas ainda mantendo os cheios e vazios (figura 18). A planta (figura 15) desse projeto se assemelha ao projeto anterior com exceção da fachada. Os jornais da época fizeram propaganda desse empreendimento com a fachada modificada (figura 22), é possível observar ainda, que, a empresa incorporadora da construção não é somente a Segurança Imobiliária S.A., mas também a Construtora Alfredo Mathias.
A intervenção do italiano Giancarlo Palanti ocorreu em 1952, com a mudança total da fachada, deixando as quatros vistas envidraçadas configurando a composição arquitetônica moderna (figura 19). Como já assinalado por Ribeiro (p. 6, 2014), a planta projetada por Palanti (figura 16), continua muito semelhante ao projeto de Elisiário Bahiana em sua composição. Algumas propagandas da época mostravam a fachada moderna remodelada em 1955 (figura 23).
Ao se atentar sob as plantas (tipo) dos projetos de 1945 (Bahiana) e 1956 (Palanti/Mathias) é possível constatar tanto no embasamento, como nos andares superiores um mesmo número de pilares, a mesma disposição central de elevadores, escadas, sanitários e vazios para ventilação e iluminação. Também é possível verificar alterações quanto ao nº de elevadores, à disposição da escada principal e sanitários: a proposta final reduz os conjuntos de escritório a quatro unidades bem definidas e ao incorporar a escada ao núcleo central promove uma regularidade maior dos espaços em torno do mesmo, eliminando a circulação interna entre conjuntos. (Ribeiro, p.7, 2014)
Figura 14: Planta do Andar tipo projetada por Elisiário Bahiana em 1945
Fonte. IPHAN
Figura 15: Planta do andar tipo projetada pelo arquiteto Alfredo Mathias em 1951
Fonte. Arquivo GP/ FAU USP
Figura 16: Planta do andar tipo reformulada Giancarlo Palanti em 1952
Fonte. Arquivo GP/ FAU USP
Figura 17: Perspectiva feita por Elisiário Bahiana em 1945
Fonte. IPHAN
Figura 18: Perspectiva do arquiteto Alfredo Mathias em 1951
Fonte. Arquivo GP/ FAU USP
Figura 19: Perspectiva elaborada por Giancarlo Palanti em 1952
Fonte. Arquivo GP/ FAU USP
Figura 20: Processo Administrativo nº 13.376/46
Fonte. Arquivo Histórico Municipal
Figura 21: Propaganda do Edifício com a fachada projetada por Elisiário Bahiana em 1948.
Fonte. Acervo Estadão
Figura 22: Propaganda Imobiliária do final de 1951 do prédio com a fachada projetada por Alfredo Mathias.
Fonte. São Paulo Antiga
Figura 23: Propaganda de esquadrias de alumínio que foram colocadas no prédio em agosto de 1955
Fonte. Revista Acrópole/ FAU USP
Confrontando-se as perspectivas de um projeto e outro, vê-se de imediato diferenças de linguagem: o primeiro enfatiza as linhas verticais e o segundo a horizontalidade. No primeiro prevalece um equilíbrio entre cheios e vazios, o que se vê são janelas. No segundo, em vez de janelas, têm-se aberturas corridas em faixa; separados duas linhas de laje. As volumetrias dos dois projetos são semelhantes: um embasamento até a altura da Líbero Badaró, um pé-direito duplo, seguido pelo desenvolvimento do edifício e em ambos uma cobertura [coroamento] recuada do perímetro (um restaurante não construído). A diferença entre as volumetrias se resume na colunata de pé direito quíntuplo, marcando o arranque do edifício desde o Vale do Anhangabaú. Na proposta final prevaleceu por meio de blocos mais prismáticos [regulares] uma passagem mais clara entre as partes do edifício. (Ribeiro, p. 243, 2010).
As revistas e jornais da época noticiavam o edifício Conde de Prates como um novo empreendimento que trazia a visão do moderno à cidade naquela época, como por exemplo, trouxe a Revista Acrópole em Julho de 1956:
[...] Apresentado aos paulistas na noite de 9 de julho último, quando, pela primeira vez, apareceu inteiramente iluminado, o Prédio Conde de Prates, é mais um empreendimento para confirmar o equilíbrio arquitetônico já sugerido por outras iniciativas imobiliárias de grande porte, na Praça do Patriarca. É um dos edifícios comerciais de maior majestosidade de toda São Paulo.
Além de contribuir para a melhoria das instalações comerciais do centro, o prédio em questão desviará consideravelmente o intenso movimento de pedestres que ora se faz de maneira muito mais acentuada por um dos lados do Viaduto do Chá. [...]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho pretendeu reunir informações complementares sobre o Edifício Conde de Prates, retroceder na descrição das ocupações anteriores entendendo melhor a formação do edifício e sua relação com o Centro Histórico de São Paulo, em particular com a Praça do Patriarca e Vale do Anhangabaú. Através do levantamento de dados em campo, no AHWL (Arquivo Histórico Washington Luiz) foram encontradas plantas, e elevações dos palacetes Prates (projeto de Samuel das Neves), e processos administrativos do edifício. Foi possível também, entender o arruamento do lote ao longo dos anos através dos livros disponíveis no local e do dicionário de ruas, remontando e evidenciando a ideia de que o edifício é a extrusão dos palacetes anteriormente construídos no local.
Posteriormente, foram analisados processos administrativos, em conjunto com as plantas de um primeiro projeto do arquiteto Elisiário Bahiana armazenados no “Banco de Dados do Centro Histórico de São Paulo” da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Através desses dados foi possível reunir informações que foram confirmadas na visita em loco na zeladoria do edifício. Além disso, o estudo com mapas cadastrais da cidade (1881 Companhia Cantareira e Esgotos; Sara Brasil 1930; Vasp-Cruzeiro 1954), foi possível reunir as informações coletadas no AHWL e entender a formação do Centro Histórico através de análises correspondentes ao longo do tempo.
Como já descrito e explicitado por Ribeiro (2010 e 2014), o Edifício Conde de Prates teve três projetos diferentes, com fachadas totalmente remodeladas ao longo do processo de desenvolvimento do projeto. Modificações feitas sobre uma base estrutural concebida no primeiro projeto de Elisiário Bahiana e seguintes. Fatos já comprovados por meio das plantas legais e registros fotográficos da construção, datados de 1953 (figura 24), e agora acrescidos de outros registros das perspectivas dos projetos e anúncios publicitários de época. Em suma, o projeto final Giancarlo Palanti, e a construção de Alfredo Mathias, foram executados sobre bases pré-existentes.
Não foi possível reunir sistematicamente, toda a sequência de todos os projetos, inclusive os mais recentes – que incluem reformas nos sistemas de ar-condicionado, tão pouco datar e documentar a sequência das fotos da obra, pelos motivos já mencionados relativos à pandemia.
Figura 24: Período da construção do edifício Conde de Prates em 1953.
Fonte. Acervo pessoal de Alessandro Ribeiro
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Moracy Amaral e.
Pilon, Heep, Korgold e Palanti:
edifícios de escritório (1930-1960). 2015. Dissertação (Mestrado em Projeto de Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015
RIBEIRO, Alessandro Castroviejo
. Edifícios modernos e o centro histórico de São Paulo:
dificuldades de textura e forma. 2010. Tese (Doutorado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
RIBEIRO, Alessandro Castroviejo
. Edifício Conde de Prates: o palacete e os edifícios modernos
. In: ENANPARQ, 3, 2014, São Paulo.
Arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva
. São Paulo: 2014. p. 1-13.
ROCHA, Ângela Maria.
Produção do espaço em São Paulo: Giancarlo Palanti
. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, São Paulo,1991.
SAMPAIO, M. R.
Alguns dados sobre a participação do Engenheiro Samuel das Neves no plano de melhoramentos de São Paulo
. Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, n. 6, p. 90-109, 19 dez. 1996.
SEGAWA, Hugo.
Arquiteturas no Brasil 1900-1990
. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999.
TRABALHOU por São Paulo! Não nasceu aqui mas foi um bandeirante o engenheiro Samuel das Neves
. A Gazeta, São Paulo, 6 fev. 1954.
XAVIER, Alberto & LEMOS, Carlos & CORONA, Eduardo
. Arquitetura Moderna Paulistana.
São Paulo: Pini, 1983.
Periódicos:
Acrópole, nº 203, p 502, ago 1955.
Acrópole, nº 214, p 377-381 jul 1956.
Contatos:
e-mail aluno: ritielersouza@gmail.com
e-mail orientador: alessandro.castroviejo@gmail.com
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